Ao entrar pelos portões da Escola Municipal de Educação Básica ‘Abdala José de Almeida’ que faz parte do projeto Escola em Tempo Ampliado (ETA), no bairro são Mateus, em Várzea Grande, é comum avistar alunas e alunos espalhados pelo espaço da unidade com livro nas mãos, tocando violão ou praticando esportes. Alguns preferem as salas de laboratório e bibliotecas, outros se dirigem embaixo das árvores que enfeitam o jardim, mas todos entretidos e compenetrados com personagens literários, partituras de música, roteiro de teatro e pesquisas informativas sobre os mais diversos assuntos que acabam por compor páginas de folders e  criados por eles mesmos.

O incentivo a esses 100 alunos do 5º ao 7º ano da Escola Municipal de Educação Básica ‘Abdala José de Almeida’, para que eles produzam esses materiais artístico-culturais e informativos, veem da ampliação do tempo de permanência na escola com o desenvolvimento de sete oficinas: esportes, horta, teatro, dança, informática, música e reforço escolar em português e matemática.

De acordo com a diretora da escola Nilma Enedina, esse interesse pela leitura e atividades extracurriculares nem sempre foi à realidade da escola. “Se trata do resultado de um trabalho em equipe, formada pela política de educação implantada pela atual administração, professores e comunidade escolar. Esse programa leva o nome de Escola em Tempo Ampliado (ETA) que foi implantado há menos de dois anos e já alcançamos resultados bastante positivos como prêmios em concursos, além da mudança de comportamento desses jovens como seres humanos. Uma mostra de que o contraturno escolar é um período importante que deve ser preenchido com atividades planejadas, e não só aproveitado para fazer lição ou brincar no pátio. Por isso, nossa escola oferece material e instruções para professores programarem aulas extracurriculares. As atividades são planejadas para aplicação entre alunos do ensino fundamental e médio, já que são divididas em duas faixas etárias: 8 a 12 anos e 13 a 16 anos”, explica Nilma.

Das 7h às 11h os alunos de 5º ao 7º ano têm aulas regulares. Às 11h30 é servido almoço e às 13h iniciam as oficinas extracurriculares. Ao todo os estudantes permanecem 10 horas na escola e recebem três refeições.  As práticas extracurriculares educativas são totalmente alinhadas com as aulas regulares, conforme cada componente curricular. De acordo com a política nacional de Educação em Tempo Integral, do Ministério da Educação, o apoio em português e matemática, bem como a prática de esportes são obrigatórios, as demais atividades variam entre as unidades de ensino, mas devem contemplar com linguagem artística, movimento, educação ambiental, além de ciência e tecnologia.

Segundo explica a professora articuladora do projeto ETA na Escola Municipal de Educação Básica ‘Abdala José de Almeida’, Lenilda Copaldi, no contraturno, os estudantes têm um professor de referência da prática, que recebe formação ao longo do ano para que o trabalho pedagógico cumpra a necessidade de cada estudante. “As atividades complementam a formação do aluno e dão ênfase às ações práticas que se voltam à formação plena e integral. São práticas importantes que ampliam o trabalho coletivo, em grupo, e a formação cidadã de maneira descontraída e prazerosa”, afirma.

O resultado desse trabalho traz benefícios aos estudantes, que além de desenvolverem aptidões artísticas programam a confecção de folders  e informativos orientativos na divulgação escolar das atividades. Hallyfer Ruan e Júlia Rita Amorim por exemplo optaram por um gibi sobre o tema  bullying; Pedro Lucas e Pablo Henrique trabalharam o tema “Jogue o lixo no lixo”; Lauriane Aparecida produziu um folder sobre “O trânsito seguro” e os alunos Maria Luiza Feliciano, Mikaely Leite, Adenilson Bento e Thaís Eduarda Souza são responsáveis pelo informativo da escola.

“Os alunos se reúnem em grupo e optam por um tema a exemplo de dengue, violência sexual infantil e contra a mulher, trânsito, bullying, reciclagem de lixo, entre outros. A partir do assunto definido pesquisam sobre o tema, criam personagens e montam eles mesmos folders e gibis que depois são impressos e distribuídos para a comunidade escolar”, explica a articuladora acrescentando que “a escola hoje tem um novo olhar, tanto para o aluno, quanto para o professor. Você anda no pátio tem aluno lendo ou expressando suas aptidões artísticas. Essa aprendizagem nos mostrou que quando o aluno é chamado para falar, para pontuar, para questionar, eles sabem se posicionar e têm opinião formada sobre os assuntos. Muitos dos estudantes não tinham o hábito de ler, o que dificultava, inclusive, o entendimento das matérias dadas em sala de aula e, consequentemente, o andamento do conteúdo pedagógico programado. Com o contraturno escolar essa realidade mudou. Mas o ‘diferencial foi a publicação desses gibis, folders e até um jornal informando sobre as atividades da escola. Essas publicações são o resultado de todo esse trabalho educativo”.

A diretora, Nilma Enedina, vê o resultado “como algo maravilhoso. Foi surpreendente e prova, para os próprios estudantes, que eles são capazes. Que eles podem e que eles conseguem fazer. E isso aumenta a autoestima e faz sucesso na comunidade escolar. O estudante virou protagonista. Eles que escolhem o nome das publicações e peças teatrais, decidem o que querem escrever ou tocar, produzem suas próprias imagens, contam suas próprias histórias”, afirma a diretora. Vencidas as resistências iniciais, a escola passou a ser um lugar onde todos querem estar.

“Uma mãe me procurou porque sabia que a horta da escola precisava de apoio, se oferecendo para vir cuidar dela junto com o filho, por exemplo. Até que minha grande dificuldade passou a ser como comportar um número tão grande de pessoas querendo vir no contraturno, para ajudar na biblioteca, fazer campanhas, etc, tivemos que limitar o número de alunos atendidos”, relata Lenilda Colpani. A escola possui 700 alunos entre ensino fundamental e de 5º a 7º ano, divididos em dois períodos e 100 deles têm acesso ao ensino integral.

A integração com a comunidade também é tônica das práticas de educação integral no município Várzea Grande. Além das atividades culturais, como dança e música, e reforço em língua portuguesa e matemática, os alunos se envolvem em assuntos da comunidade, como educação para o trânsito, em parceria com a Guarda Municipal, e projetos de saúde. “Hoje, por exemplo, os alunos de certa forma auxiliam os agentes de saúde na questão da dengue, com limpeza dos bairros e campanha de prevenção”, conta a diretora da escola.

Por enquanto, a adesão à jornada ampliada é opcional, mesmo assim, o índice de alunos que querem participar é grande. “A maioria das crianças não tinha para onde ir (no contraturno). Os pais trabalham e elas ficam sozinhas em casa ou nas ruas e nos campinhos. Hoje elas podem ficar na escola, ter auxílio na tarefa, tirar dúvidas com monitores. As condições de estudo melhoram”, afirma a diretora Nilma.

Atualmente, Várzea Grande possui ao menos 102 educadores e pessoas envolvidas com o projeto da Escola em Tempo Ampliado em nove escolas municipais localizadas em regiões em situação de vulnerabilidade ou com baixos índices sociodemográficos. O secretário municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, Silvio Fidelis, avalia que além de um local de aprendizado a Escola em Tempo Ampliado é um local de transformações. “Esse projeto trouxe além de notas altas e prêmios aos nossos alunos, a descoberta de novos talentos. Devido aos êxitos alcançados e experimentados neste projeto conquistamos a aceitação dos alunos e das famílias. Dessa forma, promovemos o processo de ensino e aprendizagem como um todo. Não é somente o ensino dos conteúdos das disciplinas, mas a formação como cidadãos, já que eles têm acesso ao esporte e à cultura, e a formação escolar”, destacou.